João já estava dirigindo por 18
horas seguidas, parando somente cerca de 30 minutos para almoçar.
Como já passava das 21h00, João
resolveu parar no próximo posto para tomar um banho, comer alguma coisa e
dormir por algumas horas.
Ele sabia que encontrar lugar
para encostar a carreta seria tarefa difícil, já que muitos paravam antes do
anoitecer, lotando os pátios dos postos.
Ele sabia também que havia um
grande posto a alguns quilômetros a frente, e seria exatamente lá que ele
tentaria a sorte.
De longe ele avistou o totem do
posto e João se sentiu animado. Ligou a seta a direita, sinalizando sua
intenção de sair da pista.
Metros depois notou que o único
lugar disponível seria na entrada, fazendo com que parte da carreta ficasse no
acostamento. Melhor assim pensou João, pela manhã bastaria uma pequena manobra
e ele conseguiria sair, e de quebra ficaria livre do pagamento da estadia.
Mesmo sabendo que estaria sujeito
a multa, João encostou, pegou sua toalha, sabonete, escova de dente e seguiu
para o banheiro. Poucos metros antes de entrar, João viu o aviso, escrito com
letras vermelhas em uma tabuleta branca, banho R$10,00.
João sabia que era caro, mas,
naquela altura, fazer o que? O jeito era pagar. Tomou banho e seguiu direto
para o restaurante, esperando, pelo menos, encontrar algo decente para comer.
Sentou-se a mesa, chamou a garçonete, que já chegou avisando que depois das
21h00 só estava disponível o prato feito, que era composto de arroz, feijão,
carne assada, macarrão e salada, e que custava R$18,00.
João pediu o prato feito e o
devorou, apesar de que estava quase frio e a carne estava dura e seca,
acompanhado de uma cerveja. Pagou a conta, foi para a cabine, puxou as cortinas
e quase instantaneamente pegou no sono e sonhou...
Naquele sonho, João dirigia por
uma estrada muito bem cuidada, e logo adiante havia uma praça de pedágio. João
encostou na cabine e pegou o cartão vale pedágio que a empresa lhe entregou
juntamente com o recibo de adiantamento de frete, cujo valor foi depositado na
sua conta corrente. A mocinha que estava na cabine pegou o cartão, passou na
máquina e emitiu o recibo, que entregou ao João juntamente com o cartão. João
pensou que era muito bom andar por uma estrada tão bem cuidada e poder pagar o
pedágio sem burocracia, e o melhor, pago pelo embarcador.
João continuou sua jornada, e
depois de alguns minutos recebeu um aviso pelo rastreador que sua jornada de
trabalho encerraria em 30 minutos, pois ele já havia dirigindo às 8 horas
regulares e a 1h30 extra que a nova Lei dos Caminhoneiros permitia, e a parada era obrigatória. Como o rastreador era combinado com GPS, João
não precisava fazer qualquer anotação, já que o controle das paradas era feito
automaticamente, assim como as sugestões dos locais de parada. Apesar de nunca
ter passado por esta estrada, o GPS informou ao João que havia uma área de
descanso 20 quilômetros a frente.
João percorreu a distância, e de
longe avistou o totem da empresa que administrava a área de descanso. João
sinalizou a intenção de sair da pista, entrou a direita e encostou na entrada da
área. Haviam cabines que registravam a entrada de todos os veículos, sendo
obrigatória a apresentação dos documentos do veículo, dos motoristas e
acompanhantes se fosse o caso.
Rapidamente o rapaz da cabine
digitou os dados de João no computador, digitalizou seus documentos, pegou o
cartão do banco de João, introduziu em uma máquina e perguntou a João se o
pagamento seria efetuado no crédito ou no débito. João preferiu o débito,
digitou sua senha e recebeu de volta seu cartão, os documentos juntamente com o
recibo e a indicação do lugar destinado à carreta do João.
Como o pátio era muito bem
sinalizado, João encontrou o lugar sem dificuldades, encostou a carreta no
lugar determinado, pegou sua toalha, sabonete e escova de dente e desceu da
cabine.
Aquela área de descanso, além de
ampla, era segura, já que somente os funcionários podiam ter acesso as áreas
internas, e todos estavam identificados por crachás.
João chegou ao banheiro, escolheu
um box e tomou seu banho, cujo valor já estava incluído no valor pago na
entrada. O banheiro era absolutamente limpo e o chuveiro permitia um banho
reconfortador.
João saiu do banho, e conectou
seu celular a rede Wi-Fi com acesso a internet de alta velocidade, verificou
seus e-mails e mandou uma mensagem para sua mulher via Facebook.
João voltou para a carreta, pegou
algumas roupas que estavam sujas e se dirigiu a lavanderia, cujo uso também
estava incluído no preço de pernoite. Lavou e secou suas roupas e as levou de
volta a carreta.
Foi para o restaurante 24 horas,
e se serviu no buffet de arroz, feijão, batatas cozidas, bife enrolado e
salada. Ao sentar a mesa, uma garçonete perguntou a João o que ele iria beber.
João escolheu um suco de manga, já que bebidas alcoólicas não eram vendidas por
ali.
Terminado o jantar, João passou
pela sala de TV, de jogos e pela academia de ginástica, que contava com uma
série de aparelhos e instrutores 24 horas.
Naquela área também estavam
disponíveis borracharia, oficina mecânica, loja de acessórios, mini mercado e
barbearia, que cobravam preços justos, pois ninguém queria explorar quem
sustenta todos os que ali trabalham, os caminhoneiros.
Enfermaria e médico também
estavam disponíveis e aptos a atenderem emergências, inclusive com ambulância
UTI 24 horas.
João caminhou um pouco pelas
áreas internas e resolveu dormir. Se dirigiu a sua carreta e notou o sistema de
câmeras, que registravam toda a movimentação, e os seguranças em pontos
estratégicos. Notou também a alta cerca, com alta tensão, que impedia qualquer
tentativa de invasão externa.
João entrou na cabine, puxou as
cortinas e dormiu sem preocupações, já que ele estava seguro.
João acordou um pouco zonzo com
alguém batendo na porta de seu caminhão, puxou a cortina e deu de cara com um
policial. Abriu a janela, cumprimentou o policial que lhe entregou uma multa,
João acabava de ser multado por estacionar parte da carreta no acostamento.
João ainda tentou conversar com o
policial, mas não teve acordo. Foi ao banheiro, lavou o rosto, escovou os
dentes, voltou ao seu caminhão e iniciou a viagem sem sequer tomar um café,
pensando como seria bom se seu sonho fosse realidade e naquela maldita multa...
Quem sabe um dia João...
Proteção divina povo da estrada,
grande abraço, nos encontramos na próxima edição.